Quando estive a descansar na relva, depois do almoço, reparei que alguém estava muito desaparecido durante todo o passeio até aquela hora. Eu tinha que fazer algo, mesmo que ele está tão entretido a ouvir o seu leitor de música nos escutadores parecia estranho e mas chamava-me atenção. Eu inspirei fundo e fui falar com ele. “Sê corajosa…”, pensei.
- O dia está a se bom para ti?
- Dan-da-du-dim-da-du-dam… - cantarolou.
- Hey, estas a ouvir-me? – disse-lhe alto quase gritando, que até que algumas pessoas assustaram-se, e acenando-lhe na frente com a mão.
- Oh, desculpa, estavas aí… é que eu não ouvi, desculpa… – atrapalhado, afagou o seu cabelo preto espetado, virando-se para mim. – Estavas assim há tanto tempo?
- Ah, não… imagina! - disse-lhe entre risos. – Já nos vimos antes?
Ah, que pateta!!! Que pergunta é essa?
- Eu te vi no carro.
- Eu também.
Que reposta estúpida. Mas que raio de conversa é essa? Tenho de me inverter na acção.
- Aaaaaaaaaaaaaaaah… – meditei nervosamente, procurando como obrigar com que a minha língua se movesse porque que eu devia falar agora… definitivamente! – Desculpa, mas eu te vi mais cedo…
- Eu também. – disse-me forçando a seriedade.
- Estás a gozar comigo? – gritei histericamente, são insuportáveis as conversas com palavras como “eu também”.
- O que queiras que eu faça se eu realmente te vi de manhã a passear o teu cão?
- Hum, agora diz-me… estavas a espionar-me ou quê?
- Achas que tenho cara de um agente secreto?
- Agora já não, Cyrus.
- Ah, sabes o meu nome…
- Não estamos apresentados mas já ouvi te chamarem assim.
- E eu não devia saber o teu nome?
- Thelma, Thelma Black. – disse apertando-lhe a mão, como saudação.
- Vamos dar uma volta de bicicleta?
- Eu não sei… eu vou procurar o Seth.
- Fixe, vamos então procurá-lo.
Levantamo-nos, apanhamos as nossas bicicletas e fomos a pedalar entrando na floresta que me pareceu encantadora. Seguimos o caminho que fazia a trilha por debaixo das árvores. As árvores pareciam correr contra nós bem rápido.
- Onde é que achas é que ele pode estar?
- Ele prefere as árvores mais altas e com base larga.
- Também sobes às árvores com ele?
- Sim, ele adora se exibir, mas como se exibir quando não se tem público? Ele é o maior exibicionista que eu já conheci… Mas apesar disso continuo a o achar fixe.
Aceleramos pela trilha até chegar a uma zona mais fechada.
- Acho que agora temos de ir a pé. – lancei um longo suspiro.
- Ah, a senhorita já está cansada?! – gozou Cyrus. – Ainda temos que andar mais quilómetros a pé…
- Muito engraçadinho. Mas acho que não é preciso… – retorqui olhando para uma bicicleta prateada encostada numa árvore. Automaticamente olhei para cima.
Seth estava sentado de frente para o sol que estava brilhante, assistindo andorinhas a fazer rodas nas alturas. Numa pose mesmo confortável, a ouvir música nos seus auriculares. Cyrus e eu gritámos por ele, para ver se nos ouvia. Assustado e virou-se para nós, do alto das árvores.
- Thelma!!! Cyrus!!! Assim é que assustam as pessoas?
- Seth! Estás louco? – gritei-lhe para cima.
- Eu?! Porque essa pergunta?
- Vamos subir? – perguntou-me Cyrus.
- ‘Tás a brincar! É… muito alto… - sussurrei diminuindo o tom de voz, até não se ouvir nada.
- Falo sério. Eu te ajudo, confia em mim.
- Eu não passo dos três metros, ouviste?
- Ok. Mas avisa-me se mudares de ideias.
Agarrei no ramo mais baixo que vi e pus um pé em cima. Continuei a subir. Cyrus já estava bem em cima. Não podia competir. Seth continuava a balançar-se ao zumbido dos auriculares, e a rir-se de nós. Ou melhor… de mim!
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