- Então, o que estás a espera para o novo ano lectivo? – interessou-se a Kyra, pulando para dentro da sua cama que estava cravada no chão como uma piscina rasa vazia.
Quase me esquecia! Estávamos a duas semas do início das aulas, e eu não tinha preparado quase nada. Minha mãe não se preocupou muito com a minha escola nas férias, por isso eu também não estava interessada.
- Deus, sinceramente esqueci das aulas!
- Don´t worry! Eu estou a pensar em ir com a Cassie para Portland. E se quiseres podes vir connosco. Vamos na próxima quinta-feira.
- Óptimo! Obrigada.
- It’s my pleasure…
Juntei-me a ela. Kyra estava a abrir o seu portátil. Ela tinha um estilo radical mesmo. Com uma velocidade incrível ela premiu umas teclas que nem deu para perceber quais, e já estávamos ligadas à Internet. Estivemos a conferir os nossos e-mails, as nossas páginas web e as actualizações dos nossos amigos.
- Vês este rapaz? – disse a Kyra apontando o dedo para uma fotografia de um rapaz moreno com o cabelo cor de mel e os olhos verdes que fazia uma careta. – É o Scorpio, meu namorado e o vais poder conhecer no liceu. Vai ser transferido e está no 11º ano.
- É bastante giro, meus parabéns.
A minha resposta foi monótona. Eu já não aguentava mais histórias sobre rapazes desde que um miúdo acabou com o meu coração, e foi muito doloroso, não só para mim, mas também para as minhas amigas. Ele era um grande quebra-corações. Andou com todas de nós sem nós sabermos. Convidou-me para um encontro e ele não apareceu. Mas por sua vez apareceram todas as minhas amigas. Pensou que iríamos brigar uma com as outras mas acabamos por brigar com ele.
- Amanhã vamos acampar na floresta, mais para o lado das montanhas. Queres ir connosco?
- Porque não? Vai ser divertido e assim vou conhecê-lo. E depois posso te dizer o que é melhor para ti. A Cassie vai?
- Sim, vai praticar asa-delta, está toda convencida por já te atingido a maturidade e que pode praticar esse tipo de desportos. Mas vai mais de meia dúzia de pessoas. E quanto ao Scorpio… deixa que eu trato dele, ok?
Ela esboçou um sorriso torto por achar engraçado a minha cara. Fiz o mesmo mas foi muito mais engraçado ver para a cara dela, que desatei a rir. Costumávamos fazer muitas palhaçadas juntas, e esta era uma delas.
- Porque não procuras alguém para ir contigo? A Cass não vai ficar por muito tempo no chão e eu... tu sabes quero escapulir para dar um passeio com o…
- Já sei… não podes ficar comigo, porque assim como a Cassie tu vais estar com a cabeça no ar, não é?
- Yeah… Acho que percebeste…
Eu agarrei um comando que estava a mais ou menos meio metro de mim, e identifiquei-o como o de sistema de som. Pedi permissão à Kyra, ela somente abanou a cabeça como um sim e eu premi o botão “play”. Ouvi o som de uma guitarra eléctrica a arrasar no som que me fez sentir um arrepio a percorrer as costas. Quando o ritmo acelerou ouvi uma voz feminina que me era muito familiar. Automaticamente virei a cara para a Kyra.
- O quê? – brincou ela.
- Não sabia que cantavas… – balbuciei impressionada, antes da Kyra me interromper.
- Não te rales, minha querida. Um dia, vou ser uma estrela de rock! – riu-se, e eu também ri.
- Meninas! O jantar está na mesa! – chamou Elyon.
- Que bom…
Desligamos o sistema de som e descemos as escadas, onde as mulheres estavam a colocar talheres na mesa. A mãe já parecia mais animada, devem ter tido uma boa conversa…
- O que é o jantar, mãe? – perguntou a Kyra sem uma pontada de vergonha.
- Kyra! – sibilei a esta.
- Não te preocupes, Thelminha. Ela é sempre assim extrovertida. – disse Elyon.
Kyra lançou-me um olhar divertido e foi sentar-se à mesa. Eu segui atrás dela. O jantar era bastante apetitoso. Carne de javali com cogumelos acompanhado com esparguete.
- Kiki, não sabes se a Cass vem para o jantar?
- Não, mãe. Ela disse-me que ia jantar fora com o Stewart, em Purplehills.
- Que chique! – exclamou ela. – E tu Thelminha? Quando vais me apresentar o teu namorado?
Tossi fortemente quase me engasgando com a comida. Minha mãe olhou para mim assustada, mas não mais do que eu. Eu estava aterrorizada com essa pergunta. Levei algum tempo para voltar a respirar enquanto que Kyra acabou com o meu sofrimento.
- Ela não tem namorado, mãe, ela está ainda de recuperação das tramas dos rapazes do liceu. – explicou ela tentando não ver para a minha mãe.
- Oh, Gyna e Thelma desculpem-me…
Deixamos de falar por uns minutos. Soavam apenas os garfos que batiam nas facas e nos pratos.
- Amanhã eu gostaria de ir acampar com a Kyra, mãe. Ela vai com os seus amigos e com a Cassie para uma clareira da floresta do Este…
- Nem pensar. – interrompeu secamente.
- Mas porque não? – debateu Elyon. – Nós podíamos ficar aqui a tomar um chá.
- Mas a Thelma é ainda muito nova para esse tipo de coisas. Pode se sentir excluída… – disse indirectamente para mim.
Não dissemos nem mais uma palavra durante o jantar. Mas o que me aliviou a tristeza foi a comida que estava esplendidamente deliciosa.
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