Antes de ter chegado ouvi estranhos sussurros vindos do rio que estava
a uns cinquenta metros daí. Inconscientemente dirigi-me para mais perto. O
reflexo da lua pairava sobre a água, acompanhado pelos grilos que entoavam uma
sinfonia que dava uma sensação de tranquilidade. Sentei-me numa rocha média
para que pudesse molhar os meus pés no frio nocturno do rio. Contemplando a luz
da lua sobre ele, as minhas pálpebras ficavam pesadas com o tempo e o sono
quase se apodera de mim. Até que de repente senti uma corrente de ar quente. Ela
emanava boas energias. Senti a minha cabeça pesada. Estaria a sonhar? De súbito
eu perdi o chão e senti-me a ser elevada. Sentia o conforto do calor a
rodear-me. E estava cada vez mais forte. Não conseguia abrir os olhos, mas por
outro lado conseguia ver. Provavelmente seria um sonho. Um sonho muito verídico.
Via coisas, silhuetas, sombras, movimento... Logo já estava em outro lugar. Pela
floresta adentro, Seth e Cyrus corriam contra o tempo. Tão rápidos como vultos.
- Eu te avisei que não devíamos vir ao acampamento. Deixa-nos muito
aos olhos dos outros e dificulta-me ser o que não sou.
- Sabes, aquela rapariga pode causar-nos problemas…
- Maldita regra que não podemos conviver com eles. Se eles souberem
daquela rapariga ainda a podem dar-lhe O Ultimato.
Os dois pararam no meio do caminho. Cyrus estava estupefacto.
- Não exageres. Isso não é real!
- Acorda, isto é a realidade. A nossa mãe está morta por causa disso,
e não queres ver mais ninguém morrer também, pois não?
Nesse momento Cyrus baixou a cabeça e exalou profundamente olhando
para as pernas de Seth.
- Tu sabes como e difícil para mim conformar-me com isso, sabes?
- Estarei à disposição para te ajudar em qualquer momento, mano…
E seguiram a seu trote deixando marcas de cascos. Finalmente consegui
abrir os olhos e olhar para o tecto da minha tenda, ofegante. A única coisa de
que me lembro e de que eu estava no rio e que comecei a voar…? O que isso
significaria? Todos já estavam a dormir. Mas havia algo de estranho… pressenti
que os rapazes estariam a tramar alguma. Levantei-me rapidamente e corri para a
tenda deles. O zipper da tenda estava aberto e eles não estavam lá. “Ok, isto já está a ficar estranho” pensei
comigo mesma. Também sonhei que eles estavam no meio da floresta, e que falavam
de uma rapariga procurada, e outras trapalhadas.
Reparei em pegadas que saíam da tenda, eram os ténis do Seth e as
sapatilhas do Cyrus, elas seguiam o trilho e iam para a floresta. Eu voltei
para a minha tenda e arrumei a minha pequena bolsa. Meti lá dentro a minha
bússola (para o caso de eu me perder), o meu telemóvel e a minha lanterna. Não
parei para tirar umas barras de cereais e chocolate que já estavam dentro da bolsa,
estava com pressa.
Nunca pude pensar que alguma vez estaria tão preocupada com uns rapazes que conheci em tão pouco tempo, mas o caso deles é diferente, não sei porquê… Parecia que eles são irmãos para mim. “O que estas para ai a pensar Thelma Black? Pfff… É a irmandade a primeira vista??? Que estupidez...” ri comigo mesma embora instintivamente ía a caminho da floresta.
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