26 de março de 2010
1ª parte do capítulo I "A casa na praia"
25 de março de 2010
Prefácio
Faz tempo que não chovia assim. Eu estava à janela a pensar o que seria da minha vida agora. Meu pai a esta hora já estava há quilómetros de distância num voo à Singapura. A sua paixão por plantas sempre o levou a mais longe, mesmo onde a sua família não podia estar. Lembro-me que queria que eu fosse uma bióloga tal como ele, mas eu tinha melhores planos, eu queria seguir o meu futuro de advogada. Tive sempre a paixão por defender os outros… mas defender quem? Eu devia ser a ultima adolescente da cidade, já que ninguém sai nessas ruas a não ser eu. Eu não tive muitos amigos por aqui. Sempre a família por perto.
O meu dedo se deixou por percorrer o vidro da janela, que este estava gelado como gelo. Mas eu já estava habituada ao frio de Clover Road, era como se esse frio me deixasse ansiosa para conhecer pessoas com aura forte e coração quente, que me pudessem aquecer. Porém eu já conhecia a minha tia e as suas filhas gémeas, e alguns amigos lá do liceu.
Minha mãe continuava a pensar alto… com certeza estaria na sala, deitada no sofá a reclamar consigo mesma porque é que deixou o pai partir. Com certeza precisaria de conforto…
- Mãe?
- Thelma… está tudo bem contigo?
- Não te preocupes comigo. Pergunto-me como te sentes…
Ela desviou o olhar para uma moldura, que estava em cima de uma mesinha baixa, com uma fotografia nossa. Eu tinha aproximadamente cinco anos, os meus pais eram bastante jovens naquela altura. Comparando com agora que eu já tinha dezasseis anos, eles estavam adultos separados pela carreira.
- O teu pai gosta muito de ti. – começou – Ele sempre te deixava brincar no parque, mas ficava sempre de vigia. E agora ele simplesmente vai embora e não se importa de te deixar comigo.
- Mãe, já sou crescida o suficiente para cuidar-me…
- Porque é que estás tão certa disso?... – riu-se silenciosamente – No ano passado, na escola os rapazes te acertaram com uma cadeira e…
- Mas isso foi no ano passado!
Reparei que o seu humor já estava melhor. Voltei a olhar para a fotografia, foquei-me nos olhos azuis do pai e lembrei-me da sua irmã, a minha tia, Elyon, que eu costumava chamar só pelo nome porque ela fazia questão. Era uma mulher de trinta e cinco, muito jovem mas tinha duas filhas, e como era muito jovem, não suportava ser parente de classe mais velha.
- Porque não vamos visitar os River? – perguntei à mãe. Achei que seria reconfortante.